Vivia a plenitude da minha liberdade. Aquele psicológico tumor que carregava comigo parecia estar a curar-se. Um passado que se esquecia, um futuro que se desprezava. Apenas o presente importava. O momento que se vivia, a companhia e o local, e o que se levava para a almofada cada dia que passava. Não devia obrigações: era livre. Livre de amar ou não. De ser rude ou meiga. De ignorar ou cuidar.
O altruísmo em demasia que antes mostrava estava a transformar-se lentamente num egoísmo. Pensava em mim, e cada um que pensasse em si.
Depois apareceste. Um acaso, um feliz acaso.
Começamos a falar por uma coincidência, uma conjunção de acontecimentos improváveis.
Lentamente, senti uma mudança em mim… Importava-me com o que dizias e sentias. O que me dizias tocava-me. Íamos descobrindo estranhas semelhanças, pequenos pontos de convergência das nossas almas e vidas, inegavelmente diferentes.
Quando te conheci, tudo o que já antes desconfiava se acentuou. Sim, somos diferentes. E gosto de ti assim. E sim, algo despertou entre nós.
Há algo nesses teus lábios grossos que não me deixa indiferente…E eu sei que sentes o mesmo que eu.