... diz-me ele, o David, no caminho de volta. "Tudo entre nós podia ter sido diferente." E fez-se um silêncio inexplicável.
A noite fora agradável. Num sítio que já nos é familiar, as brincadeiras do costume, confidências sinceras, conversas interessantes.
"Sim, podia. Mas não foi. E assim está bom ou não?"
E ele como costume, nunca responde às minhas perguntas.
"Está ou não?"
"Hum hum. Está."
Silêncio outra vez. Detesto-o nestes momentos. Lança a conversa e depois cala-se.
Um desvio no caminho, uma rua familiar. Podiam passar 40 anos e continuaria a lembrar-me daquela rua.
"Espera um pouco."
E eu fico no carro, à espera, a ouvir:
(It could be wrong, could be wrong) This is out of control
(It could be wrong, could be wrong) It can never last
(It could be wrong, could be wrong) Must erase it fast
(It could be wrong, could be wrong) But it could have been right
(It could be wrong, could be...)
Love is our resistance
They'll keep us apart
and they won't to stop breaking us down
Hold me
Our lips must always be sealed
(...)
E ele volta, com uma folha na mão.
"Toma. Acho que não sabias que tinha isto. Fica tu com ele agora."
O desenho. O desenho que ele estava a fazer no dia em que nos conhecemos. Já lá vão 4 anos... Como resistiu isso até agora?
"Guardei-o na caixa da minha guitarra, e nunca de lá saiu. Anda sempre comigo. Como fiz contigo. Guardei-te..."
Voltou o sorriso cúmplice, a conversa solta, as brincadeiras que só nos compreendemos.
Sim, tudo podia ter sido diferente. Mas assim é o certo.
"De qualquer forma babe, eu sou demasiado inteligente para ti." Pisco o olho, e entro em casa.
E deixo-o a rir às gargalhadas.